Em que mundo vive Fernando Henrique Cardoso?



Editorial

O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso tem insistido para que seus pares da oposição neoliberal defendam seu governo (1995-2002), e o comentário que publicou em vários jornais no domingo, sob o título "Sem medo do passado", é um esforço nesse rumo.

Volta a acusar o presidente Lula de "um autoritarismo mais chegado à direita", diz que o nível da política baixou "à dissimulação e à mentira" e reconhece que os temas da campanha eleitoral deste ano serão o neoliberalismo do PSDB, a privatização das estatais e a falta de ação de seu governo na área social.

Em que mundo vive FHC? Os tucanos - escreveu também neste final de semana o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos - perderam a "sintonia com o Brasil contemporâneo", e é como se o ex-presidente tenha escrito seu artigo para comprovar esta afirmação. Ele fala em "distorção petista" quando gente do governo ou de seu campo de apoio comparam os períodos em que ele esteve à frente da presidência da República com o atual, iniciado com a posse de Luís Inácio Lula da Silva em 2003.

A eleição de Lula, em 2002, foi saudada como a abertura de uma etapa nova em nosso país. E os fatos confirmaram aquela expectativa. O Brasil reencontrou sua vocação de crescimento, afirmou sua soberania e livrou-se de tutelas externas reforçadas pelo longo período tucano, angariou grande reconhecimento internacional à sua liderança. Na área social, o povo começa a superar a pobreza e milhões conheceram uma ascensão social nunca antes vista neste país, para usar um bordão que os tucanos detestam.

É preciso reconhecer que há coragem na defesa que FHC faz das privatizações e das escassas medidas sociais de seu governo. Coragem porque o povo brasileiro nunca aceitou as privatizações. E também porque os brasileiros reconhecem numa mesa um pouco mais farta e no usufruto de outros bens antes inacessíveis melhorias na qualidade de vida que não são percebidas por artes da propaganda mas vividas na pele. Esta percepção popular se traduz em estatísticas que colocam nas nuvens a aprovação ao presidente Lula e a seu governo.

A comparação é desfavorável a FHC em qualquer quesito que se consultar. Para não alongar, bastam duas que afetam diretamente a vida do povo: a criação de empregos e a recuperação do salário mínimo.

Em 2002, quando FHC deixou a presidência, o salário mínimo correspondia a 64 dólares e permitia a compra de apenas uma cesta básica. No início de 2010, depois das mudanças promovidas por Lula, cresceu quase cinco vezes em moeda norte-americana, e beirava os 300 dólares. E permitia a compra de 2,17 cestas básicas.

Em relação ao emprego, os anos FHC deixaram para os trabalhadores a memória amarga da desocupação crônica. Nos oito anos de mandato tucano e neoliberal foram criados apenas 780 mil novos empregos, com a irrisória média mensal de apenas 8.301 empregos. Hoje a realidade é outra - Lula vai terminar seu mandato com algo em torno de 12 milhões de novos empregos e uma média mensal de 125.000 - isto é, 15 vezes mais do que sob FHC.

Em uma frase de efeito, no final de seu artigo, FHC escreveu que o "eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças". Gostem ou não os tucanos e os conservadores, a eleição deste ano vai comparar o desempenho dos dois últimos presidentes, e os dois programas que levaram a resultados tão díspares. Vai comparar programas e não pessoas, como querem muitos tucanos, que traem assim uma concepção atrasada e personalista da política. A eleição será o caminho do plebiscito, disse corretamente Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB. A comparação vai ser feita pelo voto e os brasileiros vão dizer nas urnas qual dos dois programas interessa mais ao país e ao bem estar do povo. E deixar claro em quem confiam e em que programa enxergam "um horizonte de esperanças". Nos tucanos é que não é!

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