Vasco Neto, o desbravador do século XX




Se vivo fosse, o engenheiro civil, professor universitário e político Vasco Azevedo Neto, considerado um baiano nascido em Guaxupé, Minas Gerais, completaria 100 anos hoje

por
Nelson Rocha
Publicada em 25/02/2016 09:28:19



Se vivo fosse, o engenheiro civil, professor universitário e político Vasco Azevedo Neto, considerado um baiano nascido em Guaxupé, Minas Gerais, completaria 100 anos hoje, dia 25 de fevereiro. Em homenagem à data de nascimento desta ilustre figura pública, a Tribuna ouviu algumas personalidades sobre a importância da sua trajetória, e todas enfatizaram o pioneirismo de Vasco Neto e o seu papel de cidadão e homem público, sério e honesto, sempre comprometido com o progresso e a integração da Bahia, do Brasil e da América do Sul. Uma Missa em celebração do seu centésimo aniversário, acontecerá hoje, às 19hs, na Igreja da Vitória.
“O engenheiro Vasco Azevedo Neto foi a encarnação mais atuante do prefeito administrativo do presidente Washington Luís, para quem governar é abrir estradas. Vasco Neto deixou para o Brasil, o rico legado da concepção de uma malha rodoviária que integra os estados brasileiros entre si e o Brasil aos seus vizinhos sul- americanos. É nome para figurar entre os maiores de nossa terra”, declarou o empresário e escritor Joaci Góes.  
Para o professor e vereador Edvaldo Brito, as lembranças de Vasco Neto são “as melhores. Com ele convive, enquanto professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Essa convivência com Vasco Neto me fez ver o alto espírito público dele, desde os seus deveres de cátedra até depois desta atividade acadêmica, como deputado federal. Se todos tivessem o mesmo caráter de Vasco Neto, nós certamente teríamos uma vida pública exemplar, como ele nos transmitiu como exemplo”, enfatizou.
O presidente da Tribuna e da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Walter Pinheiro, que conviveu com o professor Vasco Neto, também se manifestou sobre o ilustre baiano: “Grade pai de família, meu companheiro de Rotary, com quem tive a chance de conversar por momentos muito agradáveis sobre o desenvolvimento e crescimento do Brasil e, especificamente, sobre seus planos para a integração hidrográfica do Brasil criando um novo canal de transporte, que tanto beneficiaria o nosso País, sua parte mais interna, trazendo resultados para uma grande população.
Em certos momentos, muitos o viam como um visionário. Mas hoje, esse plano do Vasco Neto de certa forma vai se realizando pouco a pouco e, agora, quando nós estamos reverenciando sua memória pelo seu centenário de nascimento, é muito importante que toda essa história, essa memória venha à baila. Que reflexões sejam feitas sobre a sua contribuição decisiva para o crescimento do nosso País e os exemplos que ele deixou em termos da idoneidade, da prática política, com P maiúsculo por excelência, e que tanto está fazendo falta neste momento no Brasil”, pontuou.
Um engenheiro visionário e autor de grandes projetos
Vasco Neto foi  Deputado Federal por quatro mandatos   (1971-1974, 1974-1978, 1978-1980 e 1986-1990) e candidato a Presidente da República (1998).  Ele criou o Departamento de Transportes na Escola Politécnica da UFBa e é portador de várias honrarias e condecorações, entre as quais a Medalha e Diploma Integração do Brasil pelas Telecomunicações, Cidadão do Estado de Sergipe (1973), Medalhas do Mérito Tamandaré (1973), Santos Dumont (1973  e Comendador da Ordem do Mérito Aeronáutico (1974).
O título de Cidadão Baiano lhe foi concedido em 2004. De sua bibliografia constam vários publicações. “Ele era um visionário. Há 50 anos já previa os tigres asiáticos. Na época que ninguém acreditava no oeste da Bahia, ele já previa terras produtivas na região”, diz a socióloga Graça Azevedo, filha única do professor Vasco Neto, que também teve três filhos homens, dois deles vivos.
     
O traçado da atual Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) é inspirado no projeto denominado “Ferrovia Transulamericana”, de sua autoria. O projeto por ele concebido pretendia ligar os dois oceanos por meio de um complexo rodoviário e ferroviário, que passaria pelos Andes e chegaria a Puerto Bayovar, no Peru. “A estrada nunca andou porque os gringos não liberaram dinheiro. Tinham medo que o Brasil se integrasse com os tigres asiáticos”, dizia. 
Quase quatro décadas depois, em 2009, o Departamento de Estradas e Rodagens elaborou um estudo de pré-viabilidade da construção da Ferrovia Leste/Oeste, que contemplava parte do traçado de Vasco Neto que, aos 94 anos, testemunhou o início das obras e declarou: “Tudo isso é a realização de um sonho. É através dessa ferrovia que vamos colaborar com o sistema de transporte e com a vida desse país”. 
Um de seus filhos, Vasco Otávio Azevedo, falando sobre a trajetória visionária de seu pai disse: “Além da Ferrovia Oeste-Leste, seu grande sonho era ver a América Latina ligada por uma hidrovia, ou seja, interligada por rios. Lutou veementemente contra o fim da ferrovia, foi visionário quando pensou no álcool como combustível, em uma época em que não se pensava que hoje seria tão utilizado”, destacou em publicação do Site da Logística. 
Pretende-se homenagear o ex-deputado Vasco Neto, e seu pai, dando seus nomes, respectivamente, à Rodovia Feira-Salvador e à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). O Projeto de Lei 2223/2011, subscrito pelos três senadores da Bahia e os três representantes do Tocantins, já aprovado no Senado, encontra-se na Câmara Federal. 
Graça Azevedo diz que a coisa mais importante para o pai “era o compromisso ético em tudo que ele fazia. Na política só fez amigos e, quando chegou a época que a política teria que ser bancada financeiramente, e obviamente como ele não tinha condição financeira de bancar a campanha, e não aceitaria jamais a política do toma lá dá cá, desistiu dela e voltou a lecionar nas escolas. Como pai de família , uma única palavra diz tudo sobre ele: Exemplo. Ele não precisava dizer o que fazer. Mostrou com a vida que ele teve, como deve se portar um cidadão no mundo”, enfatizou.  Embalado por seu sonho, Vasco Neto faleceu em Salvador, no dia 30 de setembro de 2010, aos 94 anos de idade. 

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